segunda-feira, 29 de agosto de 2011

29 de Agosto Beata Joana Jugan 1792 - 1879 Fundadora das Pequenas Irmãs dos Pobres




1792 — esta data evoca acontecimentos dramáticos. Algum tempo antes, duzentos padres eram massacrados em Paris, porque recusavam prestar o juramento exigido pelo poder revolucionário e, alguns meses depois, o Rei Luís XVI era guilhotinado.


CASA DE JOANA JUGAN EM SUA INFÂNCIA


Pressente-se, desde logo, que o Oeste de França irá sublevar-se para defender as suas tradições e haverá, durante sete ou oito anos, uma dura guerra civil. Como muitas outras igrejas, a de Cancale será fechada e transformada em armazém de forragem. Estes difíceis acontecimentos vão marcar a infância da pequenina Joana, que será também duramente afetada pela morte prematura de seu pai. Tendo saído, por alguns meses, para a pesca no alto mar, não estava presente quando a filha nasceu. Outras vezes, não podia partir, quando o deveria fazer para ganhar algum dinheiro, porque a sua falta de saúde o impedia de embarcar. Então, a mãe tinha de trabalhar, de lavar roupa, durante dias inteiros, para sustentar os filhos — oito ao todo, dos quais, quatro, morreram de tenra idade. E um dia, quando Joana tinha três anos e meio, o pai voltou a embarcar e nunca mais voltou. Esperaram-no durante muito tempo, mas tiveram de aceitar esta quase certeza: ele tinha morrido no mar.



O interior da casa
da família de Joana
em Cancale



A pequenina Joana aprendeu com a Mãe a fazer os trabalhos domésticos, a tratar dos animais, a rezar. Nessa época não havia catequese organizada, mas muitas crianças aprenderam o catecismo em segredo, com pessoas suas vizinhas que tinham adquirido uma fé pessoal e responsável numa espécie de ordem terceira fundada por S. João Eudes, no século XVII.

Nesses anos difíceis, os membros desta Instituição, vivendo a sua vida laica como uma consagração a Cristo, desempenharam um papel considerável na transmissão da Fé. Foi, sem dúvida, graças a eles, que Joana aprendeu a ler e alcançou um conhecimento exato da Fé Cristã. Mais tarde, ela própria entrará para esse grupo.

Por volta dos 15 ou 16 anos, Joana foi colocada como ajudante de cozinheira numa família dos arredores. A casa, que ainda existe, chamava-se «Mettrie-aux-Chouettes». A rapariguinha chegou lá muito tímida, mas pronta a aprender e a fazer bem o seu novo trabalho. Parece que a Senhora De La Choue a acolheu afetuosamente e a rodeou de simpatia. Com o decorrer dos anos teve mesmo por ela uma grande admiração porque Joana não foi só empregada na cozinha — esteve ligada ao serviço dos pobres. Ia visitar famílias indigentes e velhinhos que viviam isolados e aprendia já a partilha, o respeito, a ternura e quanta delicadeza é necessária para que se não humilhem os que precisam de ser ajudados.

Por essas alturas, um jovem pediu-a em casamento e, segundo o costume, Joana pediu-lhe que esperasse. E continuou o seu serviço que, para ela, era também uma escola onde se aperfeiçoava. Um pouco mais tarde, em 1816, houve em Cancale, uma grande missão a cumprir: depois da terrível tempestade da revolução era preciso reconstruir a Fé e a Igreja. Joana participou nessa tarefa. Foi então que decidiu guardar-se para o serviço de Deus e não se casar, o que fez saber ao seu pretendente.

O futuro era uma incógnita. Existia nela, todavia, um pressentimento indefinido, talvez. Mesmo assim, disse um dia à Mãe:

«Deus quer-me para Ele.
Guarda-me para uma obra que não é conhecida,
para uma obra que ainda não está fundada.»



Primeiros passos em direcção aos pobres ´
(1817-1823)


Em 1817, Joana, com 25 anos, deixou Cancale e a Família. As suas duas irmãs eram casadas e, dentro em breve, seriam mães, mas ela fizera outra escolha. Deixou às irmãs uma parte de suas roupas «tudo o que tinha de elegante e de bonito» — diz-se; e partiu para Saint-Servan, pondo-se ao serviço dos pobres; queria ser pobre como eles. De fato, a cidade de Saint-Servan estava cheia de pobres, de necessitados. Quase metade da população estava inscrita no serviço de Beneficência e numerosos mendigos assediavam as poucas famílias que viviam mais à vontade.

Joana entrou como enfermeira no hospital «du Rosais», demasiado pequeno para acolher as misérias que lá se refugiavam, porque um hospital, naquela altura, era mais um refúgio para todas as angústias que um importante lugar de ciência médica; e uma enfermeira apenas sabia preparar chás, fazer pensos, pôr cataplasmas...

Durante cerca de sete anos, Joana dedicou-se aos trezentos doentes que aí se amontoavam, com trinta e cinco crianças encontradas ou abandonadas. Entre estes desgraçados «tinhosos, com sarna ou com doenças venéreas» e sem meios suficientes, o trabalho era rude, esgotante! Joana entregou-se a esta tarefa com todo o seu coração. Além disso, contasse, consagrava os seus momentos livres a iniciativas apostólicas; foi assim que teria ajudado um enfermeiro a aprender o catecismo.

Era animada por uma fé viva. Aquando de uma missão que reavivou a vida cristã em Saint-Servan, em 1817, criaram-se congregações destinadas a encorajar uma ajuda espiritual, a estimular a oração e a reflexão cristã. Joana inscreveu-se na congregação das raparigas.

Um pouco mais tarde, entrou para um grupo mais exigente, a tal «ordem terceira eudista» (ou Sociedade do Coração da Mãe Admirável), que ela conhecera, sem dúvida, desde a infância, através das pessoas de fé que lhe tinham ensinado o catecismo.

As mulheres que compunham esta sociedade levavam uma espécie de vida religiosa em casa e juntavam-se, regularmente, em reuniões de oração e de partilha. Impunham-se uma disciplina de vida e de oração quotidiana. Era sobretudo aí que encontravam uma tradição espiritual forte, herdada de S. João Eudes; o apelo a um cristianismo do coração, a iniciação a uma fé pessoal e livre, relação viva com Jesus Cristo.

Joana foi membro desta ordem terceira durante vinte anos e parece que ficou profundamente marcada por ela. O espírito do grupo encontra-se na primeira regra ou hábitos das Irmãzinhas dos Pobres, principalmente no que respeita à comunhão viva com Jesus e à renúncia de si mesma — caminho para a liberdade interior.

Mas nós tínhamos deixado Joana no «Hospital du Rosais», no meio dos seus pobres doentes, numa extrema pobreza de meios. Ao fim de seis anos, tendo ultrapassado os limites das suas forças, estava completamente exausta e teve de abandonar o seu trabalho.


Um tempo de pausa e de maturação
(1824-1839)


Joana encontrou, mesmo no momento oportuno, um novo emprego que foi simultaneamente para ela, uma pausa benéfica: uma certa Mlle. Lecoq, vinte anos mais velha do que ela e que era, sem dúvida, também membro da ordem terceira, contratou-a como criada e como amiga. Ambas viveram durante doze anos uma vida comum ocupada pela oração, pelas tarefas domésticas de uma existência modesta, pela presença junto dos pobres e pela catequese às crianças.

Mlle. Lecoq estava atenta à saúde da sua companheira, obrigava-a a arranjar-se, tomava conta dela.

Ambas viviam, com o seu povo, os bons e os maus dias. E houve dias de miséria, particularmente nos anos 1825-1832: em consequência de uma grave crise financeira em Londres, em 1825 e das más colheitas em França, nos anos seguintes, muitas pessoas conheceram a fome. Viu-se aumentar o número de indigentes e mesmo de desempregados que erravam, em bandos, pelos campos. Em S. Servan, o número dos necessitados aumentou ainda mais... Ambas estavam atentas a isso e tomavam, generosamente, parte nos esforços colectivos desenvolvidos para aliviar os miseráveis.

Mas a querida Mlle. Lecoq adoeceu e, em Junho de 1835, morreu, deixando a Joana os móveis e uma pequena quantia em dinheiro.

Para viver, Joana pôs-se a trabalhar a dias em casa de famílias de S. Servan que recorriam a ela: trabalho doméstico, lavagem de roupa, serviço de vigilância a doentes... Laços de amizade foram assim criados com um certo número de pessoas; estas relações foram, mais tarde, muito preciosas para Joana e para aqueles a quem ela ia ligar o seu destino.

Joana tornou-se amiga de uma mulher muito mais velha que ela, Françoise Aubert ou Fanchon. Juntando os seus recursos, alugaram uma casa no centro de S. Servan: duas divisões no andar e duas outras adaptadas nos forros.

Aí, as duas companheiras levaram uma vida ritmada pela oração, muito semelhante à que Joana levava com Mlle. Lecoq. Fanchon fiava em casa e Joana continuava os trabalhos fora.

Mas, daí a pouco tempo, uma terceira foi juntar-se-lhes: uma rapariguinha de 17 anos, órfã, chamada Virgínia Trédaniel. Esta, parece, ter entrado, sem dificuldade, na vida de oração das suas amigas mais velhas. A partir desse ano de 1838, levarão as três — 72, 46 e 17 anos — uma vida regular em comum que só a morte virá interromper.

Joana entregava-se cada vez mais aos pobres que a rodeavam em S. Servan. Mas que fazer? Sentia-se impotente perante estas imensas e múltiplas misérias... Bastaria sentir essa ferida no seu coração? Não seria preciso, com uma espécie de loucura, partilhar mesmo o necessário, mesmo a sua própria casa? Não seria necessário sentir na sua carne?

É esse passo que Joana vai agora dar e não voltará atrás.


Joana dá a sua cama
(1839-1842)


No final de 1839, talvez quando estavam a chegar os primeiros frios do Inverno, Joana tomou uma decisão: de acordo com Fanchon e com Virgínia, trouxe para casa uma mulher idosa, Ana Chauvin (viúva Haneau) cega e doente. Até então, esta velhinha vivia acompanhada pela irmã, mas esta acabava de dar entrada no hospital — situação desesperada.

Conta-se que Joana, para subir com ela a escada estreita de sua casa, a levou às costas... O que é certo é que ela lhe deu a sua própria cama e foi instalar-se no sótão. E «adoptou-a como sua Mãe».

Pouco depois, uma outra mulher idosa, Isabel Coeuru, veio juntar-se a Ana Chauvin. Tinha servido, até ao fim, os seus velhos patrões caídos na miséria; tinha gasto com eles as suas próprias economias; depois, tinha andado a pedir esmola para os manter vivos. Tinham morrido e ela estava exausta e doente. Joana tomou conhecimento desta bela história de fidelidade e de partilha e acolheu a sua protagonista sem demora; desta vez, foi Virgínia que cedeu a sua cama e foi para o sótão.

À noite, depois de terem tratado as suas protegidas e dado as boas-noites à boa Fauchon, Joana e Virgínia subiam a escada que conduzia ao sótão e, descalçando os sapatos para não fazerem barulho, terminavam as suas tarefas e as suas orações antes de se deitarem.

Eram ao todo três a trabalhar (Virgínia era costureira) para manter cinco pessoas, duas das quais, idosas e doentes; às vezes, à noite, depois do trabalho, tinham de fazer serão para coser ou lavar a roupa. Foi, talvez, a partir dessa altura que Joana começou a estender a mão às famílias que ela conhecia bem.

Virgínia tinha uma amiga, mais ou menos da sua idade, Marie Jamet que não tardou a conhecer Joana e toda a gente da casa. Ela própria vivia em casa dos pais e trabalhava com a mãe: mantinham um pequeno negócio.

Marie vinha muitas vezes visitar a sua amiga e também ela dedicava a Joana um grande afeto e admiração. As três — e às vezes Fanchon com elas — falavam de Deus, dos pobres e das questões que a vida lhes punha. Joana fez saber às suas duas jovens amigas que pertencia à ordem terceira eudista. Elas eram ainda muito novas para entrar na Ordem, mas fizeram, com a ajuda de Joana, um pequeno regulamento de vida inspirado no da ordem terceira.

Maria e Virgínia falaram da sua amizade e da sua entrea-juda espiritual, a um jovem vigário de S. Servan, o abade Auguste Le Pailleur, que era o confessor de ambas. Ele concordou com elas e prometeu ajudá-las. Conheceu Joana e interessou-se pelo grupo e pela sua ação benfazeja. Empreendedor, engenhoso, hábil, preocupando-se ele, também, com os pobres, pensou que deveria encorajar o que poderia ser o começo de uma obra. O seu apoio ia ser eficaz, mas também fonte de quantas provações!

A 15 de Outubro de 1840, com a sua ajuda, as três amigas formaram uma associação de caridade que adotou, como lei, o pequeno regulamento elaborado por Maria e Virgínia.

Assim, à volta das duas velhinhas acolhidas por Joana, nasceu uma pequena célula: era já o embrião duma grande congregação que se chamaria, muito mais tarde, «as Irmãzinhas dos Pobres».

Em 1840, Joana e as suas companheiras não o sabiam. Mas já sonhavam em albergar outras misérias, em oferecer a outras pessoas conforto, segurança e ternura. O dinheiro, Deus não lho recusaria. Mas a casa estava cheia e decidiram mudar.

Um velho «cabaret», ali perto, estava para alugar: era uma grande sala baixa, sombria com duas pequenas divisões contíguas cujo aluguer custaria cem francos por ano. Alugaram-no. E a mudança fez-se no dia de S. Miguel, no ano de 1841. A esta casa se chamou, para a posteridade, «le-grand-en-bas».


Doze mulheres idosas, contando com as que já tinham sido recolhidas, foram ocupá-la. Joana, Fanchon e Virgínia instalaram-se na pequena divisão ao fundo. Maria e Madalena ajudavam e davam algum dinheiro.

E as velhinhas, tanto quanto podiam, fiavam a lã ou o linho; vendiam o fruto do seu trabalho, o que ajudava à subsistência do grupo.

Não ficaram, contudo, por muito tempo no «grand-en-bas»; ainda não era suficientemente grande. Havia um velho convento que estava à venda. Com a ajuda de alguns donativos generosos e na esperança de peditórios abundantes para poderem pagar a dívida, a Casa da Cruz foi comprada em Fevereiro de 1842 e a mudança fez-se, em Setembro do mesmo ano.

A 29 de Maio de 1842, as associadas reuniram-se com o abade Le Pailleur; queriam organizar-se mais solidamente, tendo em vista o futuro. Completaram melhor o regulamento de vida que já seguiam, tomaram o nome oficial de «Servas dos Pobres», escolheram Joana para Superiora e prometeram-lhe obediência. Assim, por um crescimento quase imperceptível, como o de um rebento, a pequena sociedade tomava, pouco a pouco, a aparência de uma comunidade religiosa. Joana deixava-se guiar pelos apelos da vida, os quais identificava como apelos do Espírito.




O peditório
(1842-1852)




«Irmã Joana, substitua-nos! Peça em vez de nós!...»


Assim pediam as boas velhinhas que tinham vivido muito tempo a pedir. Acentuavam, deste modo, a essência desta iniciativa do peditório que iria ocupar um lugar tão importante na vida de Joana. Ela própria iria tomar o lugar dos pobres, identificar-se com eles; ou melhor, guiada pelo Espírito de Jesus, ia reconhecer, entre eles a «sua própria carne» (Is. 58,7). A miséria deles, seria a sua própria miséria, o peditório deles, seria o seu próprio peditório.

Aliás, motivos de ordem prática levaram-na a fazer o peditório, ela própria. Se tivesse deixado que as boas mulheres (como eram gentilmente conhecidas) continuassem a andar pelas ruas da cidade, tê-las-ia exposto a muitas desgraças, sobretudo as que se entregavam à bebida. Pediu, então, delicadamente, a todas elas, que lhe dessem a morada dos seus benfeitores e fazia o peditório em vez delas. E explicava:

«Desculpe, Senhor,
a partir de agora já não será a velhinha
que vinha habitualmente pedir, serei eu.
Por favor, continue a ajudar-nos com a sua esmola».



Repare-se neste «nos»... Devido à sua maneira de ser, não lhe foi fácil tomar esta decisão. É certo que tinha visto, antigamente, em Cancale, as mulheres de marinheiros ajudarem-se mutuamente, pedindo esmola com dignidade, mas isso não bastava para a fazer entrar de coração alegre, na mendicidade.

Já velhinha, recordar-se-á ainda desta vitória sobre si-mesma que ela teve de alcançar muitas vezes:

«Eu ia com o meu cesto pedir para os nossos pobres...
Isto custava-me,
mas fazia-o por Deus e pelos nossos queridos pobres.»


Ajudou-a nisso um Irmão de S. João de Deus, Claude-Marie Gandet. Os Irmãos tinham, nessa época, em Dinan, uma comunidade activa, zelosa e um hospital; desempenharam um papel importante no peditório de Joana. Aconteceu que, um dia, o Irmão Gandet foi ao «grand-en-bas» pedir esmola para o hospital.

Encontrou Joana que ficou perplexa!
Compreenderam-se e ele ajudou-a a lançar-se deliberadamente no caminho do peditório. Para a ajudar, prometeu colaborar com ela e anunciar a sua visita a várias famílias onde ele havia de ir também. Diz-se mesmo que lhe ofereceu o seu primeiro cesto de esmolas.

Joana fez-se, portanto, mendiga. Pedia dinheiro, mas também géneros alimentícios: comida, restos de refeições ou sobras serão muitas vezes apreciados, objetos, roupas...

«Ficar-lhe-ia muito reconhecida
se pudesse dar-me uma colher de sal
ou um pouco de manteiga...
Precisávamos de uma caldeira para ferver a roupa...
Um pouco de lã ou estopa, dava-nos muito jeito...».


Nunca tinha receio de confessar a sua fé; se ia pedir madeira para fazer uma cama, muitas vezes, esclarecia:

«Eu precisava de um pouco de madeira
para aliviar um membro de Jesus Cristo.»


Nem sempre era bem acolhida. Um dia, quando andava a pedir, bateu à porta de um velho rico e avarento. Conseguiu convencê-lo e ele deu-lhe uma boa oferta. Joana voltou no dia seguinte mas, desta vez, ele zangou-se. Ela sorriu e disse:

«Meu caro Senhor, as minhas pobres tinham fome ontem;
têm fome hoje; e terão amanhã...».



Ele tornou a dar e prometeu continuar.
Assim, com um sorriso, ela sabia convidar os ricos à reflexão e à descoberta das suas responsabilidades. Uma das suas frases ficou célebre. Um velho solteirão, irritado, deu-lhe uma bofetada. Ela respondeu:

«Obrigada! Isto foi para mim.
Agora dê-me alguma coisa para as minhas pobres, se faz favor!»


Joana ia muitas vezes pedir à Comissão de Beneficência da cidade e, nos primeiros tempos, tratavam-na como se fosse da casa; mas um dia, uma empregada tratou-a com aspereza e disse-lhe que tomasse o seu lugar. Quando era muito difícil, Joana encorajava-se a si própria. Dizia à companheira: «Caminhemos para Deus!» ou então, num dia de festa em S. Servan, com um dos tais meios-sorrisos que lhe eram familiares:

«Hoje vamos fazer um bom peditório
porque os nossos velhinhos tiveram um bom jantar.
S. José deve estar contente
por ver que os seus protegidos são bem tratados
e vai abençoar-nos!»


Parece que a sua presença impressionava favoravelmente as pessoas, pois possuía uma espécie de encanto que agia sobre elas. Um homem que a conheceu bem, teve esta bonita expressão:

«Ela tinha um tal dom da palavra,
uma maneira tão agradável de pedir...
Pedia, louvando a Deus, por assim dizer.»


Vivido assim, o peditório transfigurava-se. Teria podido provocar uma simples atitude de contribuição, de colaboração, pela qual os ricos ficariam com a consciência tranquila; mas Joana transformava-o numa evangelização que interpelava a consciência e convidava a uma mudança de vida.

Graças ao peditório, a ação da pequena comunidade pôde ser ampliada. Instalaram-se sem receio na «Casa da Cruz» e, no mês de Novembro de 1842, havia lá vinte e seis velhinhas, algumas das quais muito doentes. Isto exigia muito trabalho.

Madeleine Bourges veio juntar-se às associadas. Ela e Virgínia Trédaniel abandonaram o seu trabalho profissional para se dedicarem, totalmente, ao serviço das pessoas que tinham acolhido. Pouco depois, Maria Jamet fez o mesmo. Conta-se apenas com o peditório para assegurar a subsistência... e acabar de pagar a casa.

Um médico que tinha conhecido Joana no Hospital de Rosais, ficou contente por encontrá-la à frente da «Casa da Cruz» e aceitou tratar, gratuitamente, os pobres velhinhos e, até 1857, fê-lo com uma grande abnegação.

Deu-se um acontecimento importante durante o Inverno de 42-43: a entrada do primeiro velhinho. Tinham falado a Joana deste velho marinheiro que vivia doente e só numa cave húmida onde ela o encontrou num estado lamentável, em farrapos, deitado na palha apodrecida, extremamente cansado, esgotado. Movida pela mais viva compaixão, Joana foi contar o que tinha visto a um dos seus benfeitores e voltou pouco depois com uma camisa e roupa limpa. Lavou-o, mudou-lhe a roupa e levou-o para casa. Foi lá que ele recuperou as forças. Chamava-se Rodolfo Laisnê. Pouco depois, outros homens vieram juntar-se a ele. Às vezes, uma nova ajuda ou necessidades que surgiam, davam um novo impulso ou alargavam o peditório. Um dia, uma certa Mlle. Dubois ofereceu-se para acompanhar Joana no peditório pelos campos vizinhos. Era uma pessoa respeitada e conhecida que assim se comprometia, mendigando com Joana. A sua presença surpreendeu toda a gente e as bolsas abriram-se mais generosamente. Além do dinheiro, as pedintes receberam trigo, trigo mourisco, batatas e ainda linho, pano... E novas amizades se fizeram.

Fazia-se agora mais assiduamente o peditório das sobras. Às vezes, organizava-se um grande peditório de roupa. Criou-se o peditório dos mercados e também o dos navios, no porto de Saint-Malo. Com a compra da «Casa da Cruz», tinha sido contraída uma pesada dívida de vinte mil francos. Dois anos e meio mais tarde, em fins de 1844 e com sete anos de avanço, Joana tinha tudo pago. De vez em quando chegava um donativo inesperado. Foi o que aconteceu quando o sobrinho de uma vendedora de peixe, de muito má fama, verificou o prodígio: acolhida na «Casa da Cruz», tinha-se tornado uma outra mulher, tinha reencontrado a sua dignidade. Encantado por isso, o generoso sobrinho legou sete mil francos à Casa; morreu pouco depois. Esta quantia chegou a tempo para pagar o telhado dum novo edifício cuja construção tinha sido iniciada, sem quaisquer reservas de dinheiro: apenas uma moeda de cinquenta cêntimos que puseram aos pés de uma estátua de Nossa Senhora. Todos se entregaram à obra. Uns deram pedras, outros cimento, outros transportavam gratuitamente os materiais, outros, ainda, davam horas de trabalho. As Irmãs trabalhavam com a pá ou com a colher de pedreiro; e para pagarem os três mil francos que faltavam, o Prémio Montyon chegou mesmo em boa altura.

Era um prémio atribuído todos os anos pela Academia Francesa a um francês pobre, autor da ação mais digna de mérito. Os amigos da casa insistiram junto de Joana que acabou por aceitar que o pedissem para ela. O presidente da Câmara de S. Servan e as personagens mais influentes da cidade enviaram um manifesto à Academia e, no dia 11 de Dezembro de 1845, diante de um ilustre auditório no qual figuravam Victor Hugo, Lamartine, Chateaubriand, Thiers e muitas outras celebridades, o Sr. Dupin, o mais velho, fez um vibrante elogio da humilde Joana, de que os jornais se fizeram eco. O discurso foi publicado. Joana apercebeu-se de que este discurso poderia ser-lhe muito útil. Para onde fosse pedir, levaria, como ela dizia, «a brochura da Academia», o que seria para ela uma recomendação eficaz. Utilizá-la-ia, de fato, no decurso dos seus peditórios em novas localidades: Dinan, Rennes, Tours, Angers e muitas outras cidades de França.

Durante dez anos, quase sem interrupções, de 1842 a 1852, Joana levou esta vida de mendiga.

E nunca foi desiludida por Aquele em Quem tinha posto toda a sua confiança, Ante a admiração de todos, o número de velhinhos pobres aumentava sem cessar; eram bem tratados e felizes. Ampliava-se a casa e iam--se comprando outras... sem nada, sem recursos assegurados. Nenhuma outra explicação a não ser o incansável peditório de Joana, o esforço coletivo de toda uma cidade estimulada por ela e a sua fé no indefetível amor de Deus pelos seus pobres.

As irmãs dos pobres

Pouco a pouco, o pequeno grupo formado por Joana e pelas suas amigas apercebia-se de que estava a seguir uma vida religiosa e organizava-se em conformidade com ela. Tinham feito votos — votos privados, ainda não votos religiosos oficiais — de obediência e de castidade. Usavam já uma espécie de uniforme, inspirado, aliás, nas roupas das camponesas da região. Como os Irmãos de S. João de Deus, as Irmãs traziam com elas um pequeno crucifixo e um cinto de couro; Joana era a Irmã Maria da Cruz.


Em Dezembro de 1843, foi reeleita Superiora. Aconteceu, no entanto, que duas semanas mais tarde, o abade Le Pailleur, por sua autoria, anulou essa eleição e designou como superiora, a tímida Maria Jamet, de 23 anos que era sua penitente; seria mais dócil na sua mão que Joana Jugan, de 51 anos, fortalecida por uma longa experiência, conhecida em S. Servan havia já vinte e seis anos e que não recorria, pessoalmente, a ele.

O sacerdote tinha decidido. Nessa época, face a um padre, que outra coisa teriam podido fazer essas humildes mulheres, senão curvar-se? Mas Joana não o fez sem dor e sem inquietação.

Continuaram, todavia, o seu caminho. Aliás, fora do pequeno grupo, ninguém se apercebeu dessa mudança; Joana mantinha-se aos olhos de todos, responsável pela obra começada.

No início de 1844, a associação mudou de nome oficial: as Irmãs decidiram chamar-se Irmãs dos Pobres, para testemunhar melhor, sem dúvida, a fraternidade evangélica proclamada por Jesus e a intenção de uma partilha total com esses irmãos e irmãs.

Mais tarde, as Irmãs fizeram, por um ano, os votos privados de pobreza e de hospitalidade: este quarto voto — pelo qual se dedicavam ao acolhimento dos velhinhos pobres — era diretamente inspirado na regra estabelecida para os Irmãos de S. João de Deus.

Em Janeiro de 1844, Eulália Jamet foi juntar-se a sua irmã mais velha, Maria, na «Casa da Cruz». No fim de 1845, uma nova irmã foi associar-se ao pequeno grupo: Françoise Trévily foi a sexta Irmã dos Pobres. E, no ano seguinte, uma etapa decisiva iria ser ultrapassada: a fundação de uma segunda casa.

Em Janeiro de 1846, Joana partiu para Rennes. Ia pedir para os pobres de S. Servan. Mandou anunciar o seu peditório nos jornais locais que, aliás, tinham falado dela um mês antes, dando a notícia do Prémio Montyon e do discurso de Dupin na Academia Francesa.

Desde os primeiros dias passados em Rennes, Joana verificou que aí, os mendigos eram menos numerosos que em S. Servan; no entanto, os mais velhos precisavam de ajuda. Havia mesmo muita miséria nos bairros pobres da cidade. Imediatamente, um projeto de fundação se esboçou no seu espírito e Joana pediu a autorização da sua Superiora.
A partir deste momento, ela contatou com pessoas importantes e nem sempre bem dispostas, sem olhar a dificuldades.

«É verdade, é uma loucura, isto parece impossível...
Mas, se Deus está connosco, isto far-se-á»


E como não estaria Ele com os seus pobres?

Maria Jamet veio juntar-se a Joana que já tinha alugado um quarto muito grande e outro mais pequeno, ao lado. Daí a pouco tempo havia dez pensionistas. Era preciso encontrar uma casa maior. As duas Irmãs procuraram, mas em vão. Confiaram-se a S. José (que terá um lugar cada vez mais importante na oração das Irmãzinhas dos Pobres).

No dia 19 de Março, dia da sua festa, Maria rezava na Igreja de todos os Santos. Uma pessoa aproximou-se dela: «Já tem casa?» — «Ainda não», respondeu Maria. «Eu tenho o que procuram.» Foram ver; a casa, situada nos subúrbios da Madalena, podia acolher quarenta ou cinquenta pobres e tinha um pavilhão que serviria de capela. De acordo com a casa de S. Servan, o contrato foi assinado a 25 de Março e a instalação fez-se nesse mesmo dia. Alguns soldados ajudaram a fazer a mudança e a transportar velhinhas. E a casa continuou a crescer, na pobreza.

Felizmente, algumas postulantes tinham entrado em S. Servan e outras vieram de Rennes e de outras localidades.

Joana tinha recomeçado os seus peditórios: Vitré, Fougères... Por onde passava, atraía; acontecia muitas vezes que, depois da sua passagem, algumas jovens pediam para entrar no noviciado.

Foi talvez nessa época que Joana foi até Redon. Bateu à porta do colégio dos Eudistas (ela também era um pouco eudista). Um padre contou:

«Fui vê-la ao parlatório e ela eletrizou-me (...)
Sem mais demoras, levei-a à sala de estudo
dos nossos pensionistas mais velhos.
Eram cerca de cem (...) e Joana Jugan expôs,
com simplicidade e clareza, o objetivo da sua missão.
Maravilhados e profundamente comovidos,
todos esses alunos esvaziaram totalmente
os bolsos e as carteiras.»


Um pouco mais tarde, depois de um peditório de Joana, uma nova casa foi aberta em Dinan, numa velha torre das muralhas. Não tardaram, porém, a trocá-la por uma casa menos sinistra e depois por um antigo convento. No capítulo seguinte, tornaremos a falar da velha torre.

E Joana caminhava sempre, com o alforge a tiracolo e o cesto na mão, pedindo em nome dos pobres velhinhos. Algumas vezes, era para ir socorrer uma das casas recentemente fundadas: Saint-Servan, Rennes, Dinan e mais tarde, Tours (1849). Porque esta obra, de cuja direção ela tinha sido afastada, foi várias vezes salva do desastre por ela, porque era nela que as pessoas confiavam e porque era ela que sabia o que era preciso fazer-se. Joana vinha, tomava as medidas necessárias, obtinha os fundos que faltavam, encorajava uns e outros e depois desaparecia porque precisavam dela noutro lado. Não tinha onde «descansar a cabeça»; dava a impressão de que não pertencia a nenhuma comunidade local determinada. Desde que os pobres velhinhos estivessem abrigados, cuidados, amados, não se importava de estar sem lar nem lugar certo.

Um turista inglês e um jornalista francês falam de Joana

Voltemos um pouco atrás. No princípio de Agosto de 1846 Joana e Marie Jamet ocuparam, em Dinan, uma velha torre abandonada.

Três semanas mais tarde, um turista inglês bateu à porta; vinha ver Joana Jugan. Publicou, posteriormente, um relato da sua visita do qual damos, a seguir, a tradução parcial:

«Para chegarmos ao local que elas ocupavam,
era preciso subir uma difícil escada de caracol;
o andar era baixo,
as paredes nuas e grosseiras
as janelas pequeninas e com grades de ferro,
de modo que parecia que
se estava numa caverna ou numa prisão;
no entanto, esta aparência sombria
era um pouco alegrada pela claridade da lareira
e pelo ar feliz dos que ali habitavam (...).
«Joana recebeu-nos com uma expressão bondosa (...).
Vestia um vestido preto,
muito simples e muito limpo,
uma touca e um lenço brancos;
era o uniforme adotado pela comunidade.
Aparenta ter perto de 50 anos,
é de estatura média,
tem a pele queimada e parece cansada;
mas a sua fisionomia é serena e cheia de bondade,
não denotando o mais pequeno sintoma
de pretensão ou de amor-próprio.


Desenrolou-se, então uma verdadeira entrevista entre este turista — que era também um homem de bem, ocupado na criação de um hospício de velhinhos — e Joana Jugan que respondeu, com simplicidade, às suas perguntas.

«Ela não sabia
donde lhe viriam as provisões para o dia seguinte,
mas perseverava, com a firme convicção
de que Deus nunca abandonaria os pobres
e agia segundo este princípio certo:
que tudo o que se faz por eles,
faz-se por Nosso Senhor Jesus Cristo.


«Perguntei-lhe como é que ela podia distinguir os que se lhe dirigiam e que pareciam mais miseráveis, mais desamparados; que começava pelos velhinhos e pelos doentes visto serem eles os mais necessitados e que se informava, junto dos vizinhos deles, da sua maneira de ser e dos seus recursos, etc.

Para não deixar ociosos os que ainda podiam fazer qualquer coisa, mandava-os desfiar e cardar velhos bocados de tecido e depois fiar a lã que obtinham; chegavam assim a ganhar seis «liards» (antiga moeda de cobre, francesa, equivalente a um quarto de soldo) por dia. Faziam também outros trabalhos, segundo as suas possibilidades e recebiam um terço do ganho obtido».

«Eu disse-lhe que depois de ter percorrido a França, ela deveria ir a Inglaterra ensinar-nos a tratar dos nossos pobres; Joana respondeu-me que, se Deus ajudasse, iria, se fosse convidada.

«Há nesta mulher qualquer coisa de tão calmo, de tão santo
que, ao vê-la,
eu pensei que estava na presença de um ser superior.
E as suas palavras iam tão direitas ao meu coração
que, não sei bem porquê,
os meus olhos se encheram de lágrimas.
Assim é Joana Jugan, a amiga dos pobres da Bretanha
e só o fato de a ver
bastaria para me compensar dos horrores de um dia
e de uma noite passados num mar encapelado».


Crescimento


A «casa-mãe» e o noviciado encontravam-se, desde as suas humildes origens, no antigo convento da Cruz, em S. Servan. Mas já não havia lugares suficientes, desde o fim do ano de 1847, para albergar, além das pessoas idosas, as quinze postulantes e noviças que tinham iniciado a sua formação.

Como o abade Le Pailleur, o conselheiro de Maria Jamet, tinha tido algumas dificuldades com o bispo de Rennes, foi decidido instalá-las na casa de Tours, recentemente fundada. A partir dessa data, as jovens vão, aliás, afluir cada vez em maior número; no Verão de 1849, haverá já quarenta.

No dia l de Agosto, começou uma nova fundação: uma casa em Paris. Tinha sido pedida pela Conferência de S. Vicente de Paula, que tinha conhecido a obra através do Sr. D’Outremont. No fim do mesmo ano de 1849, duas outras casas começavam a surgir: uma em Besançon e outra em Nantes.

Foi em Nantes que se espalhou o nome das «Irmãzinhas dos Pobres», o qual se tornou designação oficial um pouco mais tarde.

A intuição popular tinha encontrado o qualificativo que melhor exprimia a intenção de Joana: excluindo toda a espécie de domínio, fazer-se pequenino, amar melhor.

Joana não tinha participado, diretamente, na fundação das casas de Paris, de Besançon e de Nantes. Em contrapartida, foi ela que fez nascer a casa de Angers. Vejamos como.

Prosseguindo, incansavelmente o seu peditório, Joana chegou a Angers em Dezembro de 1849, onde já era esperada por várias famílias.

Ia pedir para as outras casas já feitas, mas teve, desde a sua chegada, (como em Rennes) a ideia de dotar a cidade de Angers — que a tinha recebido tão bem — de um asilo para os pobres velhinhos.

Graças a um padre, que era vigário geral em Rennes, encontrou-se rapidamente uma casa que foi inaugurada em Abril de 1850. Entretanto, Joana voltou, provavelmente, a Tours com o produto do seu peditório e, depois, foi pedir para outras cidades.

A 3 de Abril, regressou, então, a Angers em companhia de Maria Jamet e de duas jovens Irmãs. O Bispo Mons. Angebault, recebeu-as de braços abertos. Como acontecia em toda a parte, chegaram de mãos vazias: as quatro apenas tinham seis francos na bolsa, para começar a obra.

Obtiveram as autorizações necessárias, instalaram-se e começaram a pedir. Dois dias depois, Maria Jamet regressava a Tours, «já consolada» e acompanhada de duas postulantes angevinas. No fim de Abril, acolhiam-se os primeiros velhinhos.

Os donativos afluíam; um dia, porém, não havia manteiga; Joana viu que os velhinhos comiam o pão seco:

«Mas nós estamos na terra da manteiga» disse ela. «Como não se lembraram de a pedir a S. José?»

E acendeu uma lamparina diante da estátua do Pai que dá os alimentos; mandou trazer todas as manteigueiras vazias e colocou um letreiro: «Bom S. José mande manteiga para os nossos velhinhos!».

Os visitantes ficavam admirados ou achavam graça a esta ingenuidade. Um deles exprimiu a sua desconfiança na eficácia do processo.

Mas sob estas manifestações ingénuas escondia-se uma tal Fé! Alguns dias mais tarde, um benfeitor anônimo mandou entregar uma grande quantidade de manteiga e todas as manteigueiras ficaram cheias.

Joana queria que a casa dos Pobres fosse alegre.

Apoiada pela rede angevina de amizade foi um dia ter com o coronel que comandava uma unidade, em guarnição, em Angers e pediu-lhe que mandasse, na tarde de um dia de festa, alguns músicos do regimento para alegrar os seus bons velhinhos.

«Minha Irmã, vou mandar-lhe a banda toda
para lhe dar prazer
e para alegrar os seus queridos velhinhos».


Esta fanfarra de Angers parece acompanhar com alegria o amor que se dá e que suscita o amor.

Joana deixou Angers para ir pedir noutras cidades. Durante o Inverno de 1950-51, assinala-se a sua presença em Dinan, em Lorient e em Brest.

Nesta última cidade, encontrou uma senhora muito empreendedora, que não a encorajou nada. Joana ouviu-a, refletiu e concluiu:

«Pois bem, minha querida Senhora, nós tentaremos!».


E pôs-se a pedir acompanhada por uma amiga. Chegaram a uma casa conhecida por ser pouco acolhedora; a sua companheira propôs que seguissem em frente. Mas Joana, puxando o cordão da sineta, respondeu:


«Toquemos, pensando em Deus e Deus nos abençoará».


A esmola foi generosa. Enquanto despertava nas pessoas o sentido da partilha e recebia os seus donativos, Joana continuava atenta ao desenvolvimento da família que tinha nascido dela.

Depois de Angers, foram as inaugurações de Bordéus, Rouen e Nancy, nas quais, aliás, Joana não tomou parte diretamente.

Depois, foi a primeira casa de Inglaterra, nos arredores de Londres.

Charles Dickens tinha ido, havia algum tempo, a Paris e tinha visitado o asilo recentemente fundado pelas Irmãs. Muito impressionado, escreveu um artigo no seu semanário «Household words» (14 de Fevereiro de 1852), onde descrevia a casa da rua Saint-Jacques depois de evocar a sua origem

«... Um velhinho tem os pés sobre a braseira e murmura com uma voz fraca, que agora está bem confortável porque tem sempre calor. A recordação do frio dos anos e do frio das ruas, está gravada na sua memória, mas agora sente-se muito, muito confortável...».

Este testemunho do romancista contribuiu para facilitar a instalação das Irmãzinhas dos Pobres no seu país.

Paralelamente ao crescimento geográfico e numérico — 1853, haverá quinhentas Irmãs — verifica-se um desenvolvimento da própria Instituição: o regulamento amplifica-se e fixa-se. O Pe. Felix Massot e o abade Le Pailleur trabalharam nele, em conjunto em Lille, em 1851, durante três semanas. Este projecto foi submetido ao Bispo do Rennes e, no dia 29 de Maio de 1852, Monsenhor Brossais Saint-Mare assinou o decreto de aprovação dos estatutos. Desde então, a família das Irmãzinhas dos Pobres será, na Igreja, uma congregação religiosa.

Esta aprovação episcopal fazia do abade Le Pailleur, oficialmente, o superior geral da Congregação, conjuntamente com a Superiora Geral, Maria Jamet. Ele desejava ser confirmado nesta função e o seu desejo foi satisfeito.

Foi em Rennes que ele se fixou. Com efeito, tinham acabado de comprar, na periferia da cidade, uma propriedade bastante grande chamada «La Piletière». Com o asilo de Rennes, instalou-se aí o noviciado e a casa-mãe que, anteriormente, tinham sido transferidos de Tours para Paris. O Bispo foi lá no dia 31 de Maio, presidiu à tomada de hábito de vinte e quatro postulantes e à profissão de dezessete noviças.

«Tirou-me a minha obra»
(1852-1856)


Analisemos, um pouco, o estranho percurso do abade Le Pailleur — que, na verdade, apenas se explica por uma falha sutil, mas sem dúvida profunda, na sua personalidade.

Em 1843, tinha impedido a reeleição de Joana Jugan como superiora para confiar esta responsabilidade à sua filha espiritual, Maria Jamet. Nos anos seguintes, a sua influência sobre a obra tornou-se cada vez maior, enquanto Joana pedia, infatigavelmente, para as novas casas, trabalhava diretamente na inauguração de outras duas, acorria para apoiar e salvar as que estavam prestes a acabar, garantia, com a sua presença e com o seu nome, o valor e o dinamismo das iniciativas tomadas para bem dos velhinhos desprotegidos.

Uma vez obtida a aprovação episcopal e conseguida a instalação da casa-mãe em Rennes, o abade Le Pailleur tomou uma decisão que ia modificar totalmente a existência de Joana: chamou-a para a casa-mãe. A partir de então, ela nunca mais teria contato com os benfeitores, nem teria funções importantes na congregação; viveria escondida atrás das paredes de «La Piletière», ocupada em tarefas humildes.

Joana tinha pouco menos de 60 anos e estava em plena atividade, mas obedeceu humildemente. E aí ficou — em Rennes e, depois, em La Tour S. Joseph, em Saint-Pern sem responsabilidades, até à sua morte, quer dizer, durante vinte e sete anos.

Em «La Piletière» ela viverá na pequenez, e será a partir de então, a «Irmã Maria da Cruz». No interior da congregação quase nunca mais se empregou o seu nome de Joana Jugan. Mas lá fora, ele continuou vivo em quantas memórias!

Ao princípio, Joana foi encarregada de dirigir o trabalho manual das postulantes, muito numerosas: sessenta e quatro, em 1853.

Permanecerá para sempre a recordação da sua bondade, da sua doçura para com elas. Amou sempre as jovens e foi amada por elas. Não reivindicava nada, vivia plenamente o seu apagamento. Muito mais tarde, uma Irmã escreveu:


«Nunca lhe ouvi dizer a mais pequena palavra
que pudesse fazer supor
que ela tinha sido a Primeira Superiora Geral
.


Joana falava com tanto respeito, tanta deferência das nossas primeiras «boas Madres; (superioras) era tão modesta, tão respeitadora nas suas relações com elas...»

Viu morrer, com 32 anos, uma das suas primeiras Irmãs, Virgínia Trédaniel. Terá sido esta morte ou o seu próprio sofrimento ou a recordação das primeiras provas da fundação, o que a levou a dizer um dia às postulantes: «Fomos enxertadas na Cruz».


Este enxerto estava bem vivo. A Igreja reconheceu-o como seu.
No dia 9 de Julho de 1854, o Papa Pio IX aprovou a Congregação das «Irmãzinhas dos Pobres», o que constituiu uma profunda alegria para a fé de Joana.

Para se fazer reconhecer como fundador e superior geral deste novo Instituto, o Abade Le Pailleur tinha, pouco a pouco, deturpado a história da sua origem.

Durante os 36 anos que se seguiram, as jovens, que entraram para a congregação, apenas aprenderam uma história falsificada, segundo a qual Joana aparecia como a terceira «Irmãzinha dos Pobres».

O abade exigia provas de respeito absolutamente excessivas, exercia sobre a congregação uma autoridade total: tudo passava pelas suas mãos; todas as decisões eram tomadas por ele. Em tudo era necessário recorrer-se a ele.

Mas a surpresa e mesmo o escândalo, acabaram por ser conhecidos pelas autoridades. Procedeu-se a um inquérito por decisão da Santa Sé e, em 1890, o abade Le Pailleur foi destituído e chamado a Roma onde terminou os seus dias num convento.

Durante mais de 40 anos, Maria Jamet tinha-lhe sido docilmente submissa, pensando que estava a proceder bem. Mas fora frequentemente atormentada entre o que pensava ser o seu dever de obediência e o respeito pela verdade.

Pouco antes de morrer, reconheceu:

«Não sou eu a primeira Irmãzinha dos Pobres,
nem a fundadora da obra.
É Joana Jugan que é a primeira fundadora
das «Irmãzinhas dos Pobres».


Joana vivera tudo isto com uma mistura de dor e de confiança; estava lúcida e não podia estar de acordo, mas a sua fé elevava-se acima destas manobras. Mantinha o coração bastante livre para poder dizer, de brincadeira, ao Abade Le Pailleur, o que pensava dele:

«O Senhor Padre roubou-me a minha obra,
mas eu cedo-lha de boa vontade!».


Sem rendimentos fixos!
(1856-1865)




La Tour St. Joseph,
a casa-mãe


Na Primavera de 1856, a vida de Joana mudou de quadro: acompanhando o grupo das noviças e das postulantes, foi ocupar, com a casa-mãe, uma enorme propriedade adquirida a trinta e cinco quilómetros de Rennes: A «Tour Saint-Joseph», em Saint-Pern.

Continuou aí a sua existência oculta e as suas humildes tarefas. Ficou durante vários anos em companhia de duas noviças numa divisão chamada «chambre de la cloche» (quarto do sino).

Continuava afastada de todas as responsabilidades e de todas as honras; embora nominalmente fizesse parte do conselho geral da congregação, nunca a chamavam para tomar parte nele.

Uma vez, contudo, uma única vez, convidaram-na a tomar parte numa deliberação; e ela foi, como o prova a sua assinatura. Foi no dia 19 de Junho de 1865.

Tratava-se de um problema grave para a vida da Instituição, de uma questão que punha em causa o essencial da vocação das Irmãzinhas: as exigências de pobreza da congregação.

O desejo inicial era ser-se pobre com os pobres, estar-se inteiramente dependente da caridade, com eles. Tinham sido excluídas, portanto, todas as fontes fixas de rendimento. A única propriedade eram as casas de habitação que asseguravam a independência e a segurança dos pobres velhinhos.

Na realidade, nenhum texto definia com clareza esta opção. E, nos primeiros anos, a congregação aceitou algumas rendas fixas ou fundações, mas muito esporadicamente. Ora aconteceu que em 1865, um legado de 4000 francos, sob a forma de renda, coube, por herança à congregação. Uma vez mais a questão foi colocada: deveriam ou não aceitar esta oferta? Enquanto o conselho hesitava, um leigo amigo, que ajudava na gestão financeira, recordou o princípio:

«Se as Irmãs me permitem
que dê humildemente a minha opinião,
acho que só deverão aceitar essa renda
com a autorização de a transferir
para que esse capital possa servir
para pagar a vossa casa (de Paris).
As Irmãs apenas devem possuir
as casas que habitam e, quanto ao resto,
devem viver da caridade quotidiana.
Se as Irmãzinhas passassem a ter rendas,
perderiam os direitos a essa caridade
que fazia viver os israelitas no deserto;
e se, algum dia, juntassem o maná,
ele alterar-se-ia como aconteceu outrora
ao Povo de DEUS.»

Esta observação era audaciosa: o capitalismo nascente florescia rapidamente, nasciam os grandes bancos franceses, era criado o livro de cheques; e a própria Condessa de Ségur escrevia a «Fortuna de Gaspar». Apenas se falava de lucro e o dinheiro era objeto de uma espécie de religião.

Mas as Irmãzinhas dos Pobres, sensíveis ao apelo que lhes fora dirigido, iam escolher a pobreza.

Pediram, primeiro, a opinião de vários bispos. O conselho geral reuniu-se. E foi então que se convocou a Irmã Maria da Cruz que ficou muito surpreendida e inquieta mesmo:

«Eu apenas sou uma pobre mulher ignorante,
que poderei eu dizer?»


Insistiram. «Já que assim o desejais vou obedecer.» E foi, portanto, ao conselho onde exprimiu claramente a sua opinião. Deviam continuar a não aceitar rendas fixas, a depender da caridade. Foi esta orientação que foi adotada. A circular enviada às outras casas dizia, sem ambiguidades:

«A congregação não poderá possuir qualquer renda,
qualquer rendimento fixo a título perpétuo»
e, assim,
«nós recusaremos todo o legado ou donativo
consistindo em renda
ou com a sobrecarga da instituição de camas ou de missas,
ou mesmo de qualquer outra obrigação
que exija a perpetuidade».


E o Conselho escreveu ao «garde-des-sceaux» do Império — ministro da justiça e dos cultos — para lhe dar parte desta decisão. No ano seguinte, o governo tomou nota dela e, na mesma altura, da recusa do legado de 4000 francos.

Algum tempo depois, vemos Joana convidar as jovens Irmãs a rezar «para que não cedamos às instâncias dos que quereriam deixar-nos rendas».

Vemos assim que ela velava por meio da oração, por esta congregação que ela tinha feito nascer e pela opção da pobreza que a entregava ao Amor do Pai do Céu.

Sabedoria da Irmã Maria da Cruz
(1865-1879)



Os longos anos de «La Tour Saint-Joseph» não contêm muitos acontecimentos. Somente, de quando em quando, uma imagem: com o terço na mão, a Irmã Maria da Cruz «direita, apoiada numa bengala (...) percorria os prados e os bosques, agradecendo a Deus (...); quando via velhos amigos que tinham conhecido um pouco o princípio da obra (...) ela cantava o seu «Magnificai». Era verdadeiramente eloquente na sua simplicidade».

E ia desfiando, no decorrer dos dias, palavras de sabedoria, muitas vezes carregadas de imagens, outras vezes com certo espírito. Um dia, por exemplo, explicou às noviças como deveriam comportar-se quando alguém lhes dissesse coisas desagradáveis:

«Devemos ser como um saco de lã
que recebe a pedra sem ressoar...»


«Fazer penitência», o que é que isso quer dizer? Ela imagina um caso concreto: «Duas Irmãzinhas vão fazer o peditório; estão carregadas, à chuva e ao vento... estão todas encharcadas, etc. ... Se aceitam estes incômodos generosamente, com submissão à vontade de Deus, fazem penitência.»

Um dia, Joana chamou uma jovem Irmã para junto da janela aberta e mostrou-lhe os canteiros:

«Vê estes operários que talham a pedra branca para a capela e como eles alindam essa pedra? Assim deve a Irmã deixar-se talhar por Nosso Senhor!»


A Irmã Clara corria num corredor. Joana fá-la parar: «A Irmã deixa alguém atrás de si!» A Irmã voltou-se intrigada: «Perdão, minha boa Irmãzinha, mas não vejo ninguém...»
«Sim, sim, há Deus! Ele deixa-a correr à frente porque Nosso Senhor não andava tão depressa nem se afadigaria como a Irmãzinha!»


Os anos passavam. Por volta de 1870, Joana abandonou o “quarto do sino” para ir para o quarto da enfermaria que ocupou até à morte, em companhia de três outras irmãs.

«Joana vivia em presença de Deus e falava-nos sempre d’Ele», diz uma noviça desse tempo.


Falar da oração, era-lhe familiar. Tinha frases engraçadas para limitar os caminhos da vida espiritual:

«Temos de ser muito pequeninos diante de Deus.
Quando fizerdes uma oração, começai por aí!
Comportai-vos diante de Deus
como uma rã pequenina.»



Ou então, para as horas difíceis (e vemos aí, sem dúvida, uma espécie de confidência):

«Ide procurá-Lo
quando estiverdes prestes a perder a paciência
e as forças,
quando vos sentirdes sós e impotentes;
Jesus espera-vos na Capela, dizei-LHE:
«Vós bem sabeis o que se passa, meu bom Jesus!
Só vós sabeis tudo e eu não tenho senão a Vós!
Vinde em meu auxílio!»


E, depois, ide, e não vos inquieteis em saber como podereis fazer; basta que o tenhais dito a Deus, pois Ele tem boa memória.»


A propósito de oração, ela convidava também à discrição na recitação das fórmulas. Quando rezava com as noviças, insistia, muitas vezes, «para que mais tarde velemos para não multiplicar estas orações de devoção: Cansaríeis os vossos velhinhos, dizia ela, e eles aborrecer-se-iam e sairiam para fumar... mesmo durante o terço»


Ela gostava, assim, de pôr as jovens ao corrente da sua experiência, ao serviço das pessoas idosas.

«Minhas filhas,
é preciso estarmos sempre bem dispostas;
os nossos velhinhos não gostam de caras tristes!»



Quando falava dos pobres, «o seu coração transbordava...

«Minhas queridas filhas», dizia ela,
«amemos muito Deus e os nossos velhinhos,
porque são os porta-vozes de Deus».


Joana dava às Irmãs conselhos muito simples, mas cheios de sabedoria: «Não devemos recear o esforço que é preciso para cozinhar ou para tratar dos velhinhos quando estão doentes, como não há que recear ser como uma mãe para os que são gratos e para os que não sabem reconhecer tudo o que fazeis por eles. Dizei mesmo para convosco:

«É por Vós, meu Jesus!»
«Olhai o Pobre com compaixão
e Jesus olhar-vos-á com bondade, no vosso último dia...»


E voltava a falar do peditório, com muita frequência:

«Não tenhais medo de vos sacrificar
e de mendigar como eu o fiz pelos pobres,
pois eles são os membros doentes de Nosso Senhor.»



Joana agira sempre com reflexão e bem sabia quanto isso é importante.

«Minhas filhas,
é preciso rezar e refletir antes de agir.
Foi o que eu fiz toda a vida.
Pesava todas as minhas palavras.»


Ela, que falou tão pouco dela própria, deu-nos um dos seus segredos.
Um outro segredo é o amor da pequenez:

«Sede pequeninas, pequeninas!
Se vos tornásseis grandes e orgulhosas,
a congregação cairia!
Só os humildes agradam a Deus.»



Aos 80 anos, conservava ainda um porte enérgico. Uma jovem senhora inglesa descreveu-a, então, desta maneira:

«Andando com um passo firme
com uma mão apoiada no ombro de uma jovem Irmã
e a outra numa sólida bengala,
tão direita e tão alegre pelas formosas avenidas.
O que mais nos impressionou
foi a grande doçura do seu sorriso...»

Às vezes, com as noviças, comentava, sorrindo, uma leitura. Tratava-se das santas lágrimas. Mandou fechar o livro e disse às Irmãs «há quem tenha, talvez, dificuldade em perceber isto e que diga: «Eu cá não posso chorar...»

Eu também não quereria estar sempre a chorar... Não se preocupem com as santas lágrimas! Não é preciso derramá-las, nem molhar os olhos. Mas fazer um sacrifício de boa vontade, receber uma reprimenda em silêncio, isso conta como santas lágrimas. Tenho a certeza de que, assim, já chorastes, hoje, várias vezes...»


Sabedoria, equilíbrio, benevolência, tudo isto foi Joana Jugan!
Pouco a pouco, Joana ia perdendo a vista; as suas pálpebras paralisaram.

Nos últimos anos da sua existência, estava quase cega e dizia: «Quando fordes velhas, já não vereis nada. Eu já só vejo Deus»; ou então: «Deus vê-me e isso basta-me»


Este fato não a impedia de ser alegre, de contar histórias divertidas, recordações engraçadas. Contava, por exemplo, como é que, um dia, um coelho saltara do seu cesto e como é que uns rapazinhos o apanharam na sua corrida; ela deu-lhes dez cêntimos como prêmio pelo esforço.

Num dia de Páscoa, Joana aproximou-se de um grupo de Irmãs que ensaiavam cânticos.

«Vamos, minhas filhas,
cantemos a glória do Nosso Jesus ressuscitado!»


E com os braços começou a marcar o ritmo, cantando o Aleluia com tal entusiasmo que parecia querer deixar o seu velho corpo para seguir o seu Jesus!»


Que vivacidade, que juventude! Vivia numa ação de graças contínua:

«Em tudo, por toda a parte,
em todas as circunstâncias eu repito:
Bendito seja Deus!»


Gostou sempre de cantar, mesmo até ao fim da vida; canções ou um gênero de lenga-lenga que talvez tivessem sido com postas por ela:

«O pobre chama-nos
Com a voz e com o coração
Oh! A Boa-Nova
Partamos com alegria!»


Ou então uma outra:

«Mostrai-vos sempre gentis
Não recuseis nada

Para humildes pedintes de pão
está sempre tudo bem!»,



ou ainda:

«Oh! Jesus
Rei dos Eleitos
Quem Vos amará mais?»


Parecia que a união profunda e simples, que ela vivia cada vez mais com Deus, à medida que a idade ia avançando, tinha libertado nela toda a alegria.

Da morte à vida
(1879)


Nos últimos anos de vida, Joana falava bastantes vezes da sua morte e fazia-o com serenidade.


o tumulo da beata Joana Jugan

Mas, antes de morrer, iria ter uma grande alegria. Em Novembro de 1878, tinham sido feitas diligências para obter do Papa a aprovação das constituições (a aprovação de 1854 era só «ad experimentum»).

No dia l de Março, Leão XIII concedeu a ratificação pedida.Havia, então, quarenta anos depois dos humildes princípios de Saint-Servan, 2400 Irmãzinhas.

Uma obra fruto da visão da fundadora, Joana Jugan, madre Joana Maria da Cruz, que "soube intuir as necessidades mais profundas dos anciãos e entregou sua vida a seu serviço", para ser festejada no dia de sua morte, como disse o papa João Paulo II quando a beatificou em 1982.

P.S. TEXTO RETIRADO DO PORTAL SÃO ROMÃO.

Um comentário:

  1. Ola, o seu blog eh mto interessante e completo. Trabalho no Little sisters of the poor.

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