quarta-feira, 7 de março de 2012

DIA 07 DE MARÇO ANIVERSÁRIO DAS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA EM MONTE BÉRICO/ VICENZA - ITÁLIA.

FILME SOBRE A APARIÇÃO DE MONTE BÉRICO, PRODUZIDO PELO VIDENTE MARCOS TADEU, NO SANTUÁRIO DAS APARIÇÕES DE JACAREÍ / BRASIL.





Nossa Senhora do Monte Bérico

“Os habitantes de Vicenza, mas não apenas eles, levaram Nossa Senhora a sério: todo primeiro domingo do mês, sobem até aqui pelo menos trinta mil pessoas para pedir uma graça ou agradecer uma graça obtida, ou simplesmente para fazer uma visita à Virgem Maria.

No final de cada missa – nove, todos os dias –, se gasta mais de uma hora para que as pessoas consigam sair da igreja. Por pouco não precisamos empurrá-las para que vão embora”, brinca, satisfeito, o padre Alessandro Bertacco. Professor de línguas nos colégios de Vicenza durante trinta e oito anos, ao se aposentar tornou-se reitor do santuário de Nossa Senhora do Monte Bérico. Decididamente, é um homem de sorte: existe um “problema” de abundância no Monte Bérico.

O que é uma grande alegria para ele e para sua Ordem, os Servos de Maria, que guardam o santuário ininterruptamente desde 1435:

- “Às vezes não sabemos a que santo recorrer para conseguir confessar toda esta gente. A média, no primeiro domingo do mês, é de vinte e duas mil confissões. Eu e meus companheiros da Ordem, vinte e cinco ao todo, mas apenas doze na ativa – pois os outros já estão idosos demais –, passamos até dez horas no confessionário. E o mais bonito de tudo é que a maior parte dos que vem pedir o sacramento são jovens, muitos jovens”.

Tanto assim, que já em dezembro de 1972 foi preciso construir um edifício destinado apenas ao sacramento da penitência, bem ao lado da Basílica: duas grandes capelas, uma sobre a outra, com trinta confessionários, que vieram somar-se aos que já existiam dentro da Basílica.

E ainda é pouco, se pensarmos no que ocorre todo dia 8 de setembro, festa da Natividade de Maria. O número de peregrinos quase dobra, estando presentes também autoridades civis e religiosas. A cidade de Vicenza, já na véspera da festa, fica inundada por milhares de pessoas. Muitas delas, vindo de cidades próximas, das regiões do Vêneto e da Lombardia, põem-se a caminho alguns dias antes, dividindo a peregrinação em etapas, para chegar a tempo da vigília e da “missa da aurora”, celebrada às 5h30, na manhã do dia 8. Muitos outros vêm da Bélgica, da França, da Inglaterra e da Alemanha. Às vezes até do Brasil e das Filipinas:

-“São imigrantes vênetos ligados para sempre a sua Mãe Celeste”, conta o padre Alessandro. “Um laço que é sustentado também graças a nossa revista mensal, La Madonna di Monte Bérico, que já tem cem anos: milhares de assinantes, de todas as partes do mundo, nos escrevem para comunicar seus problemas e seu amor pela terra natal e por Nossa Senhora. E eu, que dirijo a revista, publico todos os meses alguma carta deles. Até já fui encontrá-los, sobretudo na Europa, para que entendam que o santuário e os Servos de Maria estão sempre ao seu lado”.

O primeiro domingo do mês e o dia 8 de setembro, festa da Natividade de Maria: em torno dessas duas datas, extremamente caras ao coração dos habitantes de Vicenza, se explica toda a história do santuário de Nossa Senhora do Monte Bérico, o mais importante da região do Vêneto e um dos maiores locais de devoção mariana da Europa.


Monte Bérico, um gomo do paraíso

- “O lugar é muito ameno, elevado, iluminado pelos primeiros raios do sol nascente; à frente, um imenso panorama de campos férteis pontilhados de nobres palácios e vilarejos agradáveis. Na direção da mão esquerda, a vista chega até os vales distantes do Ástico, do Brenta, do Bassano, até Ásolo, com o majestoso complexo dos Alpes a suas costas; na direção da mão direita, se estende até as colinas Eugânias, até Pádua e Veneza, que impera como uma rainha solitária nas lagunas. Parece que a Virgem escolheu este lugar para que o povo de Veneza pudesse vê-lo, e se dirigisse a Ela como a um farol de salvação e de refúgio nas tempestades da vida.”

Hoje, subindo o monte que se eleva por cem metros, a sudoeste da cidade de Vicenza, experimentamos o mesmo cenário maravilhoso que o poeta e sacerdote Giacomo Zanella descreveu em seu Alla Madonna di Monte Bérico, em 2 de agosto de 1875. Um cenário solene, que se distingue pelos setecentos metros de pórticos que, partindo da cidade, correm ininterruptamente até a fachada oriental do santuário. Construídos na segunda metade do século XVIII a partir do projeto do arquiteto Francesco Muttoni, para facilitar a subida dos peregrinos “ao monte”, articulam-se em 150 arcos, como o número de contas do rosário. E, a cada dez arcos, num patamar, pode-se contemplar na parede os afrescos de cada um dos 15 mistérios do rosário.

Existe também um outro caminho, mais antigo, que leva até Nossa Senhora: é a subida das Escadinhas, com seus 192 degraus, introduzidos por um majestoso arco do triunfo com influências arquitetônicas evidentes do artista que assinou e revolucionou as feições de Vicenza: Andrea Palladio.

Enfim, o Monte Bérico é um gomo do paraíso. No centro do qual se recorta a silhueta inconfundível do santuário, onde barroco e gótico convivem: três fachadas barrocas, idênticas, em três de seus lados, e, no quarto, a oeste, a fachada gótica encostada à barroca. A fachada gótica lembra o santuário edificado depois das duas aparições de Nossa Senhora a uma senhora de Vicenza, em 7 de março de 1426 e 1º de agosto de 1428. Aqueles eram anos terríveis, anos de peste. Mas também muito bonitos, graças ao gesto de misericórdia dirigido pela Virgem Maria a Vicenza, uma cidade então reduzida ao extremo.


Santuário di Monte Berico- Monte Berico Sanctuary, Vicenza, Italy.





1404: a peste chega a Vicenza

Um documento extremamente precioso, identificado como Códice 1430 e conservado na Biblioteca Bertoliana de Vicenza, conta com todos os detalhes os fatos que ocorreram na cidade de 1426 a 1430. É a principal fonte histórica, redigida por notários públicos em novembro de 1430, documentando o Processus formalmente instruído pela Communitas Vincentiae e pelo juiz do município, Giovanni de Porto.

O motivo da instrução, solicitada pelas principais autoridades civis da cidade, é esclarecido pelo próprio documento já nas primeiras linhas: apresentar “a maravilhosa e estupenda construção da igreja da gloriosa Mãe de Deus, a Virgem Maria, no topo da montanha, dita ‘sacra’, e os milagres e outros fatos prodigiosos que lá em cima aconteceram”. Milagres e fatos prodigiosos que aconteceram depois de um período muito longo de sofrimentos, também amplamente documentado pelo Códice: “Do ano do Senhor de 1404 até o ano de 1428, esta infeliz cidade, com todo o seu território, foi sacudida e atormentada quase continuamente por pestes e doenças gravíssimas. Assim, esta província foi despojada de seu povo e de sua gente. Os habitantes morriam de doença ou, para fugir do mal, abandonavam suas casas durante anos, com pesados gastos e dificuldades”.

Apesar de tudo, aquele 1404 se anunciava um ano propício: depois de uma série de tiranos – os senhores de Pádua, Cangrande della Scala e Gian Galeazzo Visconti – terem lutado dentro da cidade para conquistá-la, os cidadãos decidiram recorrer à proteção da República de Veneza. Em 28 de abril de 1404, por intermédio dos nobres cidadãos Gian Pietro Proti e Giacomo Thiene, os habitantes de Vicenza se entregaram espontaneamente à República de Veneza, recebendo, em troca, um amplo número de privilégios, tanto de natureza econômica quanto sob a forma de autonomia legislativa. Mas foi nesse mesmo período que a peste se espalhou pela cidade, deixando morte e devastação por onde passava.

Outros documentos de arquivo revelam, por exemplo, que só restaram três monges no mosteiro beneditino dos Santos Félix e Fortunato; só nove monjas em Santo Tomás; dois camaldolenses; cinco carmelitas de São Tiago, em outubro de 1428, in pleno et generali capitulo. E o mesmo aconteceu aos outros mosteiros, o de São Lourenço, o de São Miguel e o de São Pedro. Enquanto isso, os habitantes de Vicenza imploravam e faziam penitência. Em vão. Parecia que o Céu havia se tornado surdo a qualquer invocação e que o Senhor os havia esquecido.

“Eu sou a Virgem Maria, a Mãe de Cristo…”

Naqueles anos terríveis, vivia em Vicenza uma senhora de quase setenta anos, Vincenza Pasini, que todas as manhãs subia ao Monte Bérico para levar de comer a seu marido, mestre Francesco de Giovanni de Montemezzo, que, lá no alto, cultivava a vinha de seu pequeno campo, ainda que sua principal ocupação fosse a de marangone, lenhador. O idoso casal era originário de Sovizzo, um pequeno município a poucos quilômetros de Vicenza; tendo-se transferido alguns anos antes para a cidade, os dois moravam no bairro Berga, na encosta do Monte Bérico, em frente da igreja de Todos os Santos.

O Códice relata que dona Vincenza levava uma vida simples e honesta, devotada ao Senhor e a Sua Mãe Santíssima, pela qual alimentava uma devoção excepcional: seus dias eram ritmados por muita oração e boas obras; sua frequência à igreja e às celebrações litúrgicas, e em especial sua caridade para com todos, faziam dela uma verdadeira cristã.

Em 7 de março de 1426, hora quasi tertia – às 9 da manhã –, a senhora, como sempre, chegou ao topo da colina. Assim que chegou lá em cima, viu uma mulher na sua frente, como conta o Códice, “in forma speciosissime regine perfulgide”, nas feições de uma belíssima rainha, com vestes mais resplendentes que o sol, envolta numa fragrância de mil perfumes. Diante de tanta beleza, a pobre senhora perdeu as forças, caiu de bruços no chão, enquanto a comida para seu marido, guardada na sacola, continuava intacta. Então a belíssima mulher, segurando-a pelo braço direito, levantou-a do chão e lhe disse:

- “Eu sou a Virgem Maria, a Mãe de Cristo morto na cruz para a salvação dos homens. Peço-te que vás dizer em meu nome ao povo de Vicenza que construa neste lugar uma igreja em minha homenagem, se quiser recobrar sua saúde; do contrário, a peste não cessará”.

Vincenza, então, chorando de alegria e ajoelhada diante de Nossa Senhora, respondeu:

- “Mas o povo não acreditará em mim. E onde, ó Mãe gloriosa, poderemos encontrar dinheiro para fazer estas coisas?”.

- “Insistirás para que esse povo execute a minha vontade, do contrário nunca será libertado da peste; e, enquanto não obedecer, verá meu filho irado contra ele”, respondeu Nossa Senhora. E continuou: “Para provar o que digo, que eles escavem aqui, e da rocha maciça e árida jorrará água; e, assim que se iniciar a construção, não faltará dinheiro”.

Assim falando, marcou no chão com um raminho de oliveira em forma de cruz o lugar e até mesmo a forma da igreja que deveria ser construída. Enfiou depois o raminho na terra, exatamente no local em que hoje está o altar-mor do santuário. Mas ainda não havia terminado:

- “Todos aqueles que visitarem esta igreja com devoção em minhas festas e em todo primeiro domingo do mês terão como dom a abundância das graças e da misericórdia de Deus e a bênção de minha própria mão materna”.

À alegria indizível do encontro com a Virgem se alternava no coração de Vincenza Pasini o pavor de ter de enfrentar sua cidade. Assim que desceu a Vicenza e contou tudo aquilo a todos que encontrava, a mulher logo se deu conta de que ninguém acreditava nela. Mesmo porque, com todas aquelas pessoas mortas pela peste, o povo tinha outras coisas em que pensar. Foi também falar com o bispo, Pietro Emiliani. E foi pior do que andar no escuro. O alto prelado a deixou falar algum tempo, depois a despediu num instante, considerando-a uma pessoa sem juízo. Enquanto isso, a terrível epidemia continuava a piorar cada vez mais. E Vincenza retomou sua vida de sempre, trabalhando, rezando e fazendo obras de caridade. E, nos dias de festa, subindo ao monte para rezar bem onde havia encontrado Nossa Senhora.

O documento que reúne todos os passos da investigação conta ainda que, dali a dois anos, houve outra aparição da Virgem a Vincenza Pasini: era 1º de agosto de 1428. Movida mais uma vez por piedade para com uma cidade que já havia chegado ao seu limite, Nossa Senhora repetiu as mesmas palavras, fazendo a mesma solicitação e a mesma promessa à senhora idosa.

Depois de descer à cidade, e de berrar a vontade da Mãe celeste na cara de todo o mundo, pessoas comuns e autoridades da cidade, desta vez Vincenza foi ouvida. A notícia de que Nossa Senhora havia aparecido no monte uma segunda vez se espalhou pela cidade num instante e muita gente começou a ultrapassar as muralhas de Vicenza para subir à colina. Nessa altura, o prefeito, o Conselho dos Cem e o Conselho dos Quinhentos, reunidos na grande Sala da Razão, decidiram construir, o mais rápido possível, a igreja no Monte Bérico. Informa ainda o Códice: “Tomada a decisão, e confiando apenas na esperança em Deus e na recomendação da Virgem gloriosa, a construção da igreja foi iniciada em 25 de agosto do mesmo ano de 1428”. Apenas vinte e quatro dias depois da segunda aparição.

Nossa Senhora falara a Vincenza de uma fonte de água que brotaria da rocha maciça no lugar em que se deveria erguer o santuário. E assim aconteceu: durante os trabalhos de escavação e desaterro, “jorrou como fonte uma maravilhosa e incrível quantidade de água [...], a ponto de transbordar naquele lugar como que um rio abundante, que, fazendo muito barulho, descia pelo monte”, informa mais uma vez o nosso Códice. Além disso, segundo a outra promessa da Virgem, o dinheiro também apareceu em grande quantidade: no Arquivo de Estado de Veneza, padre Giocondo Maria Todescato encontrou e publicou uma série de testamentos, com diferentes datas e os nomes de cada testador, mostrando como foi grande a generosidade dos habitantes de Vicenza para a construção do santuário.

Para esclarecer o que aconteceu em seguida, outro precioso documento, de 15 de julho de 1434, vem em nosso socorro: é a transcrição de uma lápide de mármore já destruída, cujo texto foi conservado na Biblioteca Bertoliana: “Iniciada a construção em 25 de agosto, a grande peste desapareceu parcialmente, e, completada a igreja depois de três meses, toda a província foi libertada completamente de uma série de calamidades, de forma que, a partir desse dia, com a ajuda de Deus, ninguém mais sofreu dessa doença”.

O documento é também de grande importância porque revela que esses fatos milagrosos se verificaram sob o pontificado de Eugênio IV, enquanto Francesco Foscari era doge de Veneza.

A Mater misericordiae e Nossa Senhora do Magnificat

Por quem e como foi edificada a igreja do Monte Bérico, os documentos não indicam. Tudo o que se sabe, levando em conta o pouco que restou intacto até hoje dentro da Basílica barroca, é que foi uma simples igreja de esquema basilical edificada entre agosto e final de novembro de 1428. Por sorte, a imagem de Nossa Senhora, que hoje se encontra sobre o altar-mor, encostada à parede meridional da Basílica, única remanescente do antigo templo gótico, é a mesma que foi exposta na igreja em 1428.






O Códice a descreve como “imperiosa imagem de mármore [...] pintada com arte de várias e preciosas cores”. A belíssima estátua em pedra macia das colinas Berici, que a tradição atribui a Nicolau de Veneza, tem um metro e setenta de altura e segue o esquema clássico da Mater misericordiae. Está de pé, em posição frontal, e seu rosto, aberto ao sorriso, é emoldurado por cabelos encaracolados que o véu adornado de ouro ressalta. Seu hábito possui arabescos dourados e, dos ombros, desce um belo manto azul forrado de vermelho, com as bordas de ouro. Com as mãos, Nossa Senhora abre seu manto para acolher, ajoelhados a seus pés, quatro à direita e quatro à esquerda, os representantes do povo de Vicenza, de todas as classes sociais – dá para perceber isso pelo feitio das roupas –, que invocam a sua proteção: “Mostra-te, ó Mãe”, se lê na inscrição no pedestal da estátua. Na cabeça da Virgem existe uma coroa: em 25 de agosto de 1900, o patriarca de Veneza, cardeal Giuseppe Sarto, futuro papa Pio X, subiu à montanha para a coroação de Nossa Senhora.

Depois de uma série de tentativas de furtos sacrílegos, hoje infelizmente só vemos uma cópia no lugar da coroa original – uma jóia de beleza indizível, elaborada com uma mistura de adereços de feitio popular e outros de maior valor doados a Nossa Senhora ao longo dos séculos. A coroa original se conserva num lugar secreto.

Mas há uma outra imagem da Virgem Maria, oriunda daqueles anos, encontrada em 1932: é o afresco de Nossa Senhora do Magnificat, de Battista de Vicenza. Atualmente se encontra na parede direita do moderno edifício dedicado às confissões, e reapareceu durante as obras para forrar de mármore o espaço que cerca a imagem de Maria mais antiga: nesse afresco, a Virgem, com vestes lilases recobertas pelo manto azul, está sentada sobre uma preciosa cadeira de mármore e é representada como se já estivesse próxima do momento de dar à luz; certamente, é uma pintura votiva, encomendada para propiciar um nascimento.

Os Servos de Maria tomam posse do santuário de Nossa Senhora do Monte Bérico

Vicenza, já salva da peste e com seu santuário no topo da montanha, tornou-se meta constante de gente proveniente de todas as outras cidades vênetas. O Códice 1430 assinala que uma infinidade de milagres caíram como chuva sobre os peregrinos, os quais, sobretudo no primeiro domingo do mês, segundo a promessa de Nossa Senhora, enchiam a igrejinha.

No intervalo de tempo que vai da segunda aparição da Virgem Maria até o início do Processus instruído pelas autoridades da cidade sobre os acontecimentos do Monte Bérico, morreu Vincenza Pasini. Transformada em objeto de veneração popular, a pia senhora foi sepultada na igreja de Todos os Santos, na encosta do monte; seus ossos foram transferidos para o santuário em 1810, depois da demolição da igreja de Todos os Santos. Hoje se encontram numa urna de mármore branco na cripta da Basílica.

E no meio de todos esses acontecimentos que arrastaram beneficamente o povo ao monte, foi necessário também construir um convento e, consequentemente, chamar uma ordem religiosa que pudesse assistir espiritualmente a toda aquela gente: os primeiros a chegar, no final de 1429, foram os frades da Ordem de Santa Brígida. Depois cederam seu lugar, por vontade do município de Vicenza, do novo bispo, Francesco Malipiero, e do papa Eugênio IV, aos Servos de Maria, que tomaram posse do santuário e do convento em 31 de maio de 1435. Esses frades logo se tornaram extremamente estimados pelo povo, mesmo porque à frente deles pôs-se um santo homem: frei Antônio de Bitetto.

Depois de 570 anos, os Servos ainda estão no Monte Bérico. Aliás, é justamente pela importância e pela fama de santidade que logo envolveram a frei Antônio, e, consequentemente, ao santuário, que ao longo dos séculos foram celebrados numerosos capítulos-gerais da Ordem no Monte Bérico.

O santuário se enriquece de obras de arte






No final do século XV, os Servos de Maria já não sabiam como gerenciar a enxurrada de peregrinos que se derramava sobre o monte para implorar a Nossa Senhora. Fosse verão ou fosse inverno, o povo era obrigado a assistir à missa a céu aberto.

Os frades, porém, não queriam saber de fazer reformas na igrejinha, para não comprometer sua estrutura, sugerida diretamente por Nossa Senhora. Só entre 1450 e 1454, quando já se percebiam problemas de ordem pública no santuário, em razão da grande afluência, é que se realizaram ampliações. Nisso, o salão principal original da igreja foi prolongado para oeste. Em seguida, o espaço interno foi articulado em três naves.

Com o passar dos anos, construiu-se ainda um coro para os frades, definiu-se a fachada da igreja e se edificou uma hospedaria para os peregrinos, bem no lugar em que hoje aparece o novo convento edificado em 1954. Artistas importantes foram chamados para adornar o santuário e todos os outros ambientes.

Se dermos uma olhada na atual sacristia, por exemplo, poderemos admirar a extraordinária Pietà de Bartolomeo Montagna, afresco pintado pelo artista em 1500, ao lado de outra Pietà que se pôs sobre o altar à direita do altar-mor, dentro da Basílica. Mas a obra pictórica mais preciosa de todo o santuário se destaca na parte oriental do antigo refeitório, hoje usado como pinacoteca: trata-se do Banquete de São Gregório Magno, de Paolo Veronese.

O grande artista a pintou propositalmente para esse espaço em 1572, por encomenda de seu tio por parte de mãe, frei Damiano Grana, prior do santuário entre 1571 e 1573, retratado pelo sobrinho quase no centro da cena. A obra-prima de Veronese acabaria por sofrer uma série impressionante de ataques. O último deles foi dos austríacos, que, durante a Primeira Guerra de Independência, saquearam o convento e dilaceraram a tela a golpes de baioneta, reduzindo-a a trinta e dois pedaços. Além de Veronese, na segunda metade do século XVI foi chamado ao santuário de Nossa Senhora do Monte Bérico Andrea Palladio, o maior arquiteto do Renascimento, para elaborar projetos de ampliação da igreja.

Infelizmente não há mais vestígios do famoso “acréscimo palladiano”, que, partindo da antiga parede meridional, prolongou a Basílica para o norte, concluindo-a com a fachada relativa. A demolição aconteceu quando, no final do século XVII, os Servos de Maria, recorrendo à generosidade dos cidadãos para “que se terminasse e aperfeiçoasse” a fachada principal palladiana, ao norte, à qual era preciso acrescentar um “pequeno pórtico para comodidade dos passantes”, obtiveram dos maiorais da cidade uma resposta superior a suas expectativas.

Com a cláusula, porém, de que se tirasse do caminho o “prolongamento” de Andrea Palladio e se reconstruísse a igreja desde o princípio, mantendo, obviamente, apenas a parede meridional, ou seja, a parede antiga na qual estava posicionada a imagem de Nossa Senhora.

Para dirigir os trabalhos, chamou-se Carlo Borella, titular da maior empresa de edificações de Vicenza, que realizou o complexo edifício barroco que vemos hoje. E quem povoou tanto o exterior quanto o interior da igreja de um número impressionante de estátuas foi, na virada entre os séculos XVII e XVIII, o escultor Orazio Marinali.

Por meio de três baixos-relevos externos, postos sobre as três portas de acesso ao templo, ele sintetizou em três “atos” o episódio milagroso do qual se origina o santuário. Um santuário que, tendo começado simples e humilde, não parou de inchar ao longo dos anos: em 1707, frei Ferdinando Gabrieli, que fora alguns anos antes prior do convento, decidiu, usando de seus próprios recursos, reformar um ambiente que ficava em cima do refeitório e que hoje corresponde ao museu do santuário. É a Sala dos Consultores, que guarda, numa de suas divisões, os retratos dos sete teólogos servitas nomeados, em épocas diferentes, consultores da República Vêneta, além dos bustos que retratam alguns dos superiores-gerais da Ordem entre 1653 e 1716. A Sala conserva também os mais de 150 ex-votos recolhidos ao longo dos séculos de vida do santuário: feitos tanto de madeira quanto em tela, eles contam, num estilo simples e um pouco naïf, uma série impressionante de trágicas quedas de cavalo, de janelas, dentro do lago ou de um rio. Sem contar as agressões, os incidentes, as deficiências congênitas e as doenças de risco. Enfim, uma maré de acidentes, sempre resolvidos pela intercessão maternal da Virgem Maria. Talvez seja esse um dos lugares mais comoventes e mais belos de todo o santuário.

Depois de quatro séculos de amorosa acolhida dos peregrinos, especialmente os mais pobres, e de grandiosas obras de decoração do santuário solicitadas por esses religiosos incansáveis, os Servos de Maria, obedecendo a um decreto de 11 de maio de 1810, tiveram de deixar do santuário.

Napoleão suprimiu todas as Ordens e Congregações da Itália, obrigando-as a depor o hábito, e ordenou aos religiosos regulares, que não fossem de Vicenza, que voltassem a seus vilarejos e cidades de origem. A igreja do santuário de Nossa Senhora de Monte Bérico se tornou uma capela subsidiária da paróquia da cidadezinha de São Silvestre. Na realidade, graças ao bispo de Vicenza, Zaguri, dois padres dos Servos prosseguiram em seu trabalho no Monte Bérico. Todos os outros só voltariam depois de 25 de novembro de 1835, por iniciativa do bispo Giuseppe Cappellari e com o aval do imperador da Áustria.

Mas, apesar das férias forçadas dos Servos de Maria, os dois padres que ficaram no convento continuaram a fazer mudanças no santuário: o novo campanário, a substituição do altar-mor do século XVI, a elevação da imagem de Nossa Senhora até um nicho de mármore, para favorecer a visibilidade. Até o altar foi trazido mais para a frente, de modo a permitir aos peregrinos que parassem no lugar em que Nossa Senhora havia aparecido a Vincenza Pasini: a cena está fixada num medalhão de prata, aos pés da estátua, sustentado por dois anjos de mármore. É costume que os peregrinos, no momento de pedir a graça a Maria, apoiem a cabeça no medalhão de prata, para estabelecer com Nossa Senhora uma relação direta, sensível.






1917: Nossa Senhora do Monte Bérico salva mais uma vez a cidade de Vicenza

Há um outro dia crucial, além do primeiro domingo de cada mês, em que Nossa Senhora do Monte Bérico se mostra particularmente bem disposta para com os peregrinos. É o dia 8 de setembro, festa de seu Nascimento. Existe um motivo particular, que nos remete à época da Primeira Guerra Mundial. Em 25 de fevereiro de 1917, a cidade de Vicenza, retaguarda imediata do conflito que se espalhava a poucas dezenas de quilômetros, pronunciava um voto solene a Nossa Senhora do Monte Bérico, no qual dizia que, “se nossas terras se conservarem incólumes, nós vos prometemos santificar perpetuamente o dia de Vossa Natividade, tendo-o como sagrado e festivo”. Desde então, o dia 8 de setembro é festa municipal, pois, nessa ocasião também, Nossa Senhora respondeu à oração dos habitantes de Vicenza, não permitindo que o fogo da guerra chegasse a destruir a cidade.

Ao longo daquele mesmo ano de 1917, o Boletim dos Servos de Maria dera amplo destaque à carta apostólica de Bento XV, que desejava o encerramento imediato do espantoso conflito; a atitude do santuário, por isso, foi tachada de pacifismo derrotista, e o governo ordenou que os sinos silenciassem. Isso explica por que o santuário, em 1919, pouco depois de a guerra ter terminado, recebeu de presente uma gigantesca bandeira italiana, confeccionada por 100 mil mulheres católicas, em memória de todos os mortos. E explica também a passagem por Monte Bérico dos restos mortais do Soldado Desconhecido, quando eram conduzidos de Redipúglia para Roma, o Altar da Pátria. Vem daí também a construção e denominação da praça da Vitória.

Inaugurada em 23 de setembro de 1924, ela abriu de par em par um dos mais extraordinários panoramas de toda a região do Vêneto. O cume do Monte Bérico, na frente do santuário, foi cortado em 17 metros para que a vasta área fosse construída: um grandioso retângulo com dois lados movimentados em curva barroca. O corte do monte abriu à vista, assim, o mais vasto panorama do histórico cinto de montanhas formado pelos Pré-Alpes, pelo Pasúbio e pelo Grappa.

Como se ainda fosse preciso, há mais uma data importante relacionada a esse lugar tão santo: 11 de janeiro de 1978. Nesse dia, o papa Paulo VI declarou Nossa Senhora do Monte Bérico a padroeira principal da cidade de Vicenza, com estas palavras: “Na Itália, na diocese de Vicenza, o clero e o povo há mais de 500 anos veneram com um culto ininterrupto e com ardor a gloriosa Mãe do Divino Redentor, sob o título de Nossa Senhora do Monte Bérico. [...] Nós decretamos que a Bem-aventurada Virgem Maria, homenageada com o nome de ‘Nossa Senhora do Monte Bérico’, seja declarada e seja realmente de agora em diante a principal padroeira junto a Deus da cidade e da diocese de Vicenza. Depositamos grande esperança de que neste santuário, de agora em diante, floresçam cada vez mais a devoção à Mãe de Deus, a oração frequente e um renovado conhecimento e imitação de seu Filho”.

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